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Tabagismo e cigarros eletrônicos: desafios contínuos à saúde pública

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O tabagismo é reconhecido pela Escola de Saúde Pública de Santa Catarina (2023) como uma doença crônica e redicivante, causada pela dependência da nicotina – substância presente no cigarro e em diversos outros produtos derivados do tabaco. Trata-se da principal causa de morte evitável no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2023).

 

O impacto do tabagismo no Brasil e no mundo

 

De acordo com a OMS (2022), o tabaco é responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas por ano. Destas, mais de 7 milhões morrem pelo uso direto do produto, e cerca de 1,2 milhão pela exposição passiva à fumaça do cigarro. No Brasil, dados da Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE, 2020) mostram que 12,6% da população adulta é tabagista e, desta, a maioria é representada por homens. Em Santa Catarina, o índice é um pouco maior – 13%, com Florianópolis ocupando a sexta posição entre as capitais brasileiras em número de fumantes. Apesar de o país ter alcançado uma redução superior a 60% na prevalência de fumantes adultos nas últimas três décadas – resultado que o consolidou como referência mundial no controle do tabagismo –, o impacto do consumo de produtos derivados do tabaco ainda é expressivo, ocasionando aproximadamente 443 mortes diárias por causas diretamente associadas ao seu uso, inclusive o tabagismo passivo. Dados recentes do Conselho Federal de Farmácia (Conselho…, 2025), no entanto, apontam uma tendência preocupante: pela primeira vez, em quase duas décadas, a proporção de adultos fumantes voltou a crescer, registrando um aumento de 25% em apenas um ano. Esse cenário acendeu o alerta nas autoridades sanitárias, que atribuem o fenômeno à popularização de novos produtos, como os cigarros eletrônicos e o cigarro de palha, cuja atratividade entre os jovens tem contribuído para a recomposição do consumo de tabaco no país.

 

A expansão dos produtos derivados do tabaco

 

Os cigarros comuns representam 92% do valor total de todos os produtos derivados do tabaco vendidos mundialmente, contudo, diante do aumento da conscientização sobre os danos do fumo, a indústria do tabaco tem diversificado seus produtos, investindo em alternativas como charutos, cachimbos, narguilés, rapé, cigarros de palha e Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), também conhecidos como cigarros eletrônicos. Segundo a American Cancer Society (2022), entre as décadas de 2000 e 2010 houve um crescimento de 59% nas vendas de produtos de tabaco que não produzem fumaça.

 

Cigarros eletrônicos: o mito da alternativa “menos prejudicial”

 

Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), também conhecidos como cigarros eletrônicos ou vapes, foram introduzidos na sociedade no início dos anos 2000, criados pelo farmacêutico chinês Hon Lik. Hoje, existem mais de 2.500 marcas desses produtos no mundo. Desde 2009, no entanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe sua comercialização, importação e propaganda (RDC nº 46/2009), devido à falta de comprovação científica sobre a segurança ou eficácia no tratamento da dependência da nicotina. Apesar da proibição, o comércio ilegal de cigarros eletrônicos tem crescido no Brasil, estimulando o consumo, especialmente entre jovens, e representando severa ameaça às políticas públicas de saúde. Estudos indicam que os níveis de toxicidade dos DEFs podem ser tão altos quanto os dos cigarros convencionais, visto que contêm nicotina e outras substâncias químicas nocivas à saúde humana que são mascaradas, muitas vezes, por aromas e sabores agradáveis.

Além disso, não há evidências científicas de que o uso dos cigarros eletrônicos ajude a parar de fumar; pelo contrário, muitos usuários acabam mantendo a dependência da nicotina ou praticando o uso duplo – alternando cigarros comuns e eletrônicos.

 

Ações de controle do tabagismo no Brasil

 

Desde o ano de 1989, o Instituto Nacional de Câncer (Inca, 2022a) coordena o Programa Nacional de Controle do Tabagismo, em parceria com secretarias de saúde e entidades da sociedade civil. O objetivo principal é reduzir a prevalência de fumantes e a morbimortalidade associada ao tabagismo.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, gratuitamente, tratamentos para cessação do tabagismo, com abordagem multidisciplinar, com opções que incluem medicamentos (adesivos, gomas e pastilhas de nicotina, ansiolíticos, entre outros); terapias integrativas (como auriculoterapia); acompanhamento psicológico e educativo.

 

Os benefícios de parar de fumar

 

De acordo com campanhas veiculadas pela Secretaria de Atenção Primária à Saúde e do Instituto Nacional de Câncer (Inca, 2022b), o ato de parar de fumar traz benefícios imediatos e de longo prazo para a saúde de quem o faz, incluindo:

  • Após 20 minutos, a pressão arterial e a pulsação se normalizam;
  • Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue melhora;
  • Em 2 dias, o olfato e o paladar começam a se recuperar;
  • Após 3 semanas, a respiração e a circulação melhoram;
  • Em 1 ano, o risco de infarto cai pela metade;
  • Após 10 anos, o risco de infarto é igual ao de quem nunca fumou.

Nesta direção, quanto mais cedo ocorre a cessação do consumo de cigarros, menor é o risco de adoecer, e maior é a possibilidade de melhorar a qualidade de vida; então, atuar com a população que demonstra o interesse e desejo em parar de fumar é uma experiência enriquecedora e desafiadora.

 

Conclusão

 

O tabagismo continua sendo um dos maiores desafios da saúde pública mundial. Mesmo com os avanços nas políticas públicas de controle, novas formas de consumo, como os cigarros eletrônicos, exigem atenção e vigilância constante. É essencial desmistificar a ideia de que os DEFs são inofensivos e, ao mesmo tempo, fortalecer as políticas de prevenção, mediante a oferta de apoio acessível à cessação do tabagismo. Parar de fumar é sempre possível, urgente e necessário – e sempre vale a pena! O Programa de Controle ao Tabagismo, presente em inúmeras Unidades Básicas de Saúde (UBS) do país, tem sido de grande eficácia. Há relatos de pacientes que, com o uso concomitante de métodos farmacológicos e auriculoterapia, apresentaram cessação do tabagismo e redução da ansiedade. Além dos métodos já citados, a adesão a atividades físicas regulares ajuda a reduzir a fissura e ansiedades causadas pela abstinência de nicotina.

Em se tratando dessa questão, porém, ainda se faz necessário a realização de estudos e planejamentos socioeconômicos, com o objetivo de ofertar opções alternativas de cultivo para os fumicultores, bem como, rever taxações para as grandes indústrias, uma vez que estas são movidas por interesses puramente econômicos. Essas empresas continuam a produzir e comercializar um produto sabidamente nocivo à saúde humana e ao meio ambiente, enquanto investem fortemente em estratégias de marketing para manter e renovar o consumo, inclusive entre jovens.

A indústria do tabaco se sustenta na lógica perversa da produção e do consumo: o lucro é privado, mas o prejuízo é público ou coletivo. Os danos provocados pelo tabagismo recaem diretamente sobre o sistema de saúde, sobrecarregando o SUS, que precisa prover o tratamento de milhões de brasileiros acometidos por doenças relacionadas ao consumo de nicotina, como câncer, enfisema pulmonar, doenças cardiovasculares e outras condições crônicas. Assim, o Estado – e, portanto, toda a sociedade – acabam por arcar com os custos da degradação causada por essas empresas.

Do ponto de vista ambiental, a cadeia produtiva do tabaco também é altamente destrutiva: desmatamento para cultivo, uso intensivo de agrotóxicos, poluição por bitucas e resíduos tóxicos, além da emissão de gases e produtos químicos no processo industrial. Cada cigarro produzido representa não apenas um risco à saúde humana, mas, também, agressões ambientais ao planeta.

Dessa maneira, enquanto o tabaco continuar sendo tratado como simples produto de consumo e não como uma mercadoria de alto custo social, econômico e ambiental – portanto, nocivo à saúde humana –, seguiremos assistindo ao mesmo ciclo: empresas lucrando com a doença, o sofrimento e a morte humana, e o Estado pagando a conta.

 

REFERÊNCIAS

 

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. ANVISA. Resolução RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. Dispõe sobre a proibição da comercialização, importação e propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 ago. 2009. Disponível em: https://www.in.gov.br.

 

AMERICAN CANCER SOCIETY. Tobacco Atlas. 7th edition. Atlanta: ACS, 2022. Disponível em: https://tobaccoatlas.org/.

 

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Tratamento do tabagismo no SUS: manual de condutas para profissionais de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude.

 

CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. CFF. Relatório sobre o consumo de tabaco e cigarros eletrônicos no Brasil: tendências e desafios para a saúde pública. Brasília: CFF, 2025. Disponível em: https://www.cff.org.br/

 

ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DE SANTA CATARINA. ESP/SC. Programa Estadual de Controle do Tabagismo: orientações para profissionais de saúde. Florianópolis: ESP/SC, 2023.

 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde 2019: percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/.

 

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. INCA. Programa Nacional de Controle do Tabagismo: bases conceituais e operacionais. Rio de Janeiro: INCA, 2022a. Disponível em: https://www.gov.br/inca.

 

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. INCA. Programa Nacional de Controle do Tabagismo: Tratamento do tabagismo. Rio de Janeiro: INCA, 2022b.
Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/programa-nacional-de-controle-do-tabagismo/tratamento.

 

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. OMS. WHO Report on the Global Tobacco Epidemic 2023: Protect people from tobacco smoke. Geneva: WHO, 2023. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240077263. Acesso em: 2 nov. 2025.

 

Autores:

 

Barbara Ribeiro da Silva – Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional; Universidade do Contestado (UNC). E-mail: barbarabrs@gmaill.com

 

Amanda Slabadack – Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional; Universidade do Contestado (UNC). E-mail: amanda_slabadack@hotmail.com

 

Cleverson Kalil de Souza – Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional; Universidade do Contestado (UNC). Santa Catarina, Brasil. E-mail: cleversonkalil@gmail.com

 

Jairo Marchesan – Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental (UNC); Líder do Grupo de Pesquisa em Meio Ambiente e Sociedade (MAS/UNC) Universidade do Contestado (UNC). E-mail: jairo@unc.br

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Equipe A Gazeta Tresbarrense
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